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publicado em 22 de dezembro de 2020

O QUE ESPERAR DO MERCADO PECUÁRIO EM 2021 E COMO SE PREPARAR – Macroeconomia (Parte 1)

No dia 15/12/2020 o Professor Dr. Alexandre Mendonça de Barros, ministrou uma excelente palestra, na qual abordou como está o cenário macroeconômico e seu impacto no agronegócio, apresentou as perspectivas para o mercado de grãos e coprodutos da agroindústria e o que podemos esperar do mercado pecuário nos próximos anos.

O Prof. Alexandre é Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP, onde também cursou o Doutorado em Economia Aplicada. Foi professor do Departamento de Economia da ESALQ entre 1995 e 2004, posteriormente foi Professor de Economia Agrícola na Fundação Getúlio Vargas entre 2005 e 2011 e lecionou por último na Fundação Dom Cabral de 2017 a 2019. Atualmente é membro de Conselhos Administrativos de dezenas de empresas do agronegócio e sócio consultor da MB Agro Consultoria.

Se você perdeu o evento, não se preocupe. Nós preparamos um resumo de cada tema abordado na palestra. E se você quiser assistir o conteúdo completo, ele está gravado e o link está ao final do artigo!

Como está desenhado o cenário macroeconômico e seu impacto no agronegócio

O ano de 2020 foi totalmente atípico e sem precedentes, resultando em problemas nos mais variados setores da economia mundial. No começo da pandemia, com o fechamento do comércio, as pessoas logo quiseram estocar alimentos, o que causou um aumento generalizado de preços (especialmente por conta da alta demanda). Conforme a pandemia caminhou, houveram momentos de muito nervosismo, já que foram vistas escalas de abate em países como EUA e Canadá sendo reduzidas em até 50% por quase um mês. Situação que logo passou, com as escalas voltando ao normal e o preço acompanhando com certa volatilidade.

Do ponto de vista “macro”, a tendência foi de uma acomodação de preços, o que não aconteceu no Brasil. Por que?

No Brasil, assim que a pandemia aconteceu, o Dólar saiu do país (assim como de outros países emergentes), já que investidores em momentos de incerteza tendem a trazer seu dinheiro para “casa”. Este movimento causou forte desvalorização do Real e levou ao seguinte efeito: enquanto os preços agrícolas foram cedendo em Dólar, em Real eles começaram a subir, pois foi mais forte a desvalorização do Real do que a queda em Dólar dos preços dos alimentos.

“Nós brasileiros tivemos um desempenho espetacular, não tem outra palavra para dizer”.

A cadeia da carne continuou forte

Este desempenho foi fruto da ação ágil de produtores, indústria e logística que conseguiram estabelecer protocolos muito rápidos e, mesmo com a pandemia em avanço, conseguiram dar ritmo à exportação de maneira excepcional.

O Prof. Alexandre explica que foi devido a dois principais fatores: o aumento do consumo de carne vermelha por parte da China devido ao advento da peste suína africana. Os chineses, que precisavam reconstruir seu rebanho de suínos, enxergaram oportunidade de compra na soja brasileira (que estava barata em Dólar), assim como de outros produtos, como a carne bovina. Em resumo, as exportações estavam em patamares muito elevados, com alta dos preços internos dos alimentos que poderia frear o consumo, mas que devido ao auxílio emergencial conseguiu segurar a situação. Para entender a importância deste auxílio, como referência, só o Bolsa Família custa cerca de R$ 40 bilhões ao ano, enquanto o auxílio emergencial repassou à população cerca de R$ 50 bilhões por mês.

Nestes dois últimos meses a expectativa é de retomada econômica. Por outro lado, segundo o Prof. Alexandre, é preciso ter cautela, já que nos próximos meses espera-se uma segunda onda de COVID-19, o que gera incertezas para o setor de food service (ramo de restaurantes/alimentação), tendo em vista a comum redução de consumo relacionado ao “pós 13º” e o fim do auxílio emergencial.

As economias estão sofrendo os efeitos desta segunda onda de COVID-19. Entretanto, o mercado antecipa o futuro: se tiver a vacina, por imunização da população, as restrições acabam rapidamente, enquanto as atividades econômicas terão uma aceleração no mundo todo – do emprego, da renda e da volta do consumo fora de casa”.

Ao mesmo tempo em que esta “euforia” acontece, o dólar fica mais fraco frente às principais moedas do mundo. Quando o dólar se enfraquece, o investidor que “tem o dólar na mão”, percebe que este ativo vai perder valor, então busca comprar ativos cotados em dólar que acredita que vai subir. As commodities foram as escolhidas nestes últimos meses, o que levou a uma retomada dos fundos de investimento que puxaram os preços dos alimentos.

Até pouco tempo, o Real se manteve muito depreciado por duas razões:

  • Nós estamos com as menores taxas de juros da história do País. Os juros atuais estão na casa dos 2% (com 4% de inflação), sendo que em menos de 5 anos atrás estes eram de 14%. Estes juros baixos “espantaram” muitos investimentos estrangeiros no País.

  • O segundo fator é o “problema fiscal”. As contas públicas estão em uma situação muito complicada. Para medir a situação, o Professor explica que podemos utilizar um indicador que mede a relação entre a dívida do setor público pelo Produto Interno Bruto (PIB) – o que seria equivalente a uma empresa comparar a dívida pelo faturamento. Esta relação, que no início do ano estava ao redor de 75%, tem a estimativa de fechar o ano em 96%, um dos patamares mais altos da história. Mas o que isso significa? Que o nível de confiança de investidores externos depende de o governo nacional apresentar um plano crível de recuperação da econômica.

Ao olhar para o risco-Brasil (indicador que determina o risco de investimentos no País), percebe-se que com o início da pandemia o aumento foi repentino e extremamente alto. Com o passar do tempo e as medidas tomadas pelo governo, o risco tornou a cair, assim como o valor do Dólar frente ao Real.

Em resumo, enquanto o governo manteve uma taxa de juros baixa, o que atrai pouco capital, o país “ficou barato” – voltando a chamar atenção externa – ainda mais com o risco-Brasil em queda. O Professor ressalta que é importante ficar atento, já que até o momento o orçamento não foi efetivamente apresentado e complementa “sabemos que existem propostas para a continuidade do auxílio emergencial, assim como de ações para a continuidade da atividade econômica, portanto ainda vamos ver uma volatilidade no câmbio”. Ou seja, o Dólar pode voltar à casa dos R$5,50 logo no início de 2021. Por outro lado, se o governo respeitar o teto dos gastos, o Real pode se manter abaixo dos 5.

Nos próximos artigos, que divulgaremos nas duas próximas semanas, o Prof. Alexandre abordará o comportamento das commodities e do mercado pecuário, como retrospectiva de 2020 para projetar possíveis cenários em 2021. Então fique ligado aqui no blog e em nossas redes sociais!

 

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